sobre

Tendo a pintura alcançado o dinamismo promissor da sua própria marginalidade poética ao libertar-se de toda função ‘de época’, hoje os pintores alcançaram uma liberdade invejável: já não carregam o mundo nas costas.

 

Bruno Dunley é pintor: um dos protagonistas essenciais da geração de pintores que despontou no Brasil no início do século XXI. A complexidade e riqueza de sua obra – sua variedade e consistência – lhe conferem singularidade notável entre os artistas que emergem no novo século.

 

Sua obra contém um repertório fascinante de diagramas sabiamente filtrados pela espessura da imagem pictórica, por vezes como se a matéria que cria a imagem na pintura suspendesse em um limbo – isto é: des/trabalhasse – tudo aquilo que o esqueleto diagramático da imagem pode fazer na pintura.

 

Os trabalhos de Dunley enfatizam essas tensões. Nos mais recentes, abundam festivas figuras serpentinas, circulares – uma assinatura de Dunley. Esta dimensão diagramática das pinturas faz-se muito mais com manchas e traços do que com cores e linhas.

 

Abertas ao que delas surgirá, as obras de Dunley enfatizam uma verdade que nosso mundo saturado de múltiplas imagens efêmeras quer esquecer: que, de fato, nenhuma pintura se esgota em sua própria imagem.

 

Luis Pérez-Oramas