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A Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro orgulha-se em apresentar Inverso do infinito, individual do paulista Artur Lescher. A mostra apresenta dez trabalhos inéditos do artista produzidos entre 2018 e 2020, que sintetizam e desdobram muitos dos elementos que constituem sua prática escultórica original.

 

Artur Lescher inscreve-se como um dos principais expoentes da escultura contemporânea brasileira, justamente pela capacidade de articular fundamentos deste gênero a partir de um olhar atual e aprofundado. Sua produção renova a herança do rigor formal geométrico das vanguardas russas de Vladimir Tatlin e Kazimir Malevich, assim como da sinuosidade de Jean Arp e Constantin Brancusi. Este último é uma referência inegável para o artista, não só pela verticalidade pronunciada das estruturas de Lescher, mas também pela polidez especular da superfície que ao refletir e distorcer o espaço, colocam o espectador, ou sua imagem, dentro da obra.

 

Se por um lado Brancusi inovou ao desintegrar a separação entre objeto escultórico e espaço expositivo, tanto ao abolir quanto ao integrar o pedestal na escultura, Lescher se vale de uma estratégia similarmente radical, deixando suas estruturas suspensas no espaço. Nos últimos anos, Lescher tem se voltado para uma pesquisa plástica em que um dos principais elementos que constitui suas peças é a gravidade. Os percursos dessa investigação têm sido revelados em exposições individuais em instituições de renome, como Porticus (2017) no Palais d’Iéna, em Paris, e Suspensão (2018), uma grande retrospectiva na Pina Estação, em São Paulo.

 

Na tradição escultórica a gravidade é o fenômeno físico responsável por originar a dicotomia entre leveza e peso. É na tensão e no equilíbrio entre esses elementos que Lescher cria suas estruturas a partir da manipulação da matéria e de sua disposição no espaço, conduzindo a percepção do público. A quase totalidade dos trabalhos apresentados nesta exposição aparecem suspensas na galeria. Essa solução formal acentua a ação da gravidade, força que rege a hierarquização da atração entre os corpos, e logo nos remete à corporeidade tanto do objeto escultórico como do observador a partir da ocupação espacial.

 

Rio Léthê #13, de 2020, pode ser considerada como um ponto de inflexão na mostra, não só por ser o único trabalho de parede, mas pela sua materialidade e forma. Sua fluidez ondulante é resultado de um processo investigativo que vem se desenvolvendo a mais de quinze anos na prática de Artur Lescher. A partir de materiais como feltro ou aço, o artista cria formas sinuosas que integram a série Rios. Na mitologia grega Léthê é o curso de água que conduz ao Hades e ao esquecimento. Aqui, ele parece expressar o movimento de contínua reelaboração da lembrança, a memória dos próprios processos e formas que constituem o cerne da prática de Lescher e que ao serem revisitados retornam não como repetição, mas com a potência da diferença.

 

Inverso do Infinito, individual de Artur Lescher, ficará em cartaz na Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, de 13 de outubro de 2020 até 22 de janeiro de 2021. A visitação será feita a partir de agendamento prévio.