sobre

Nara Roesler São Paulo apresenta Arqueologias no presente, um diálogo entre as obras de Cao Guimarães (n. 1965)  e Manoela Medeiros (n. 1991). A mostra é uma curadoria do Núcleo Curatorial Nara Roesler com a assessoria de Luis Pérez-Oramas.

 

A articulação entre os trabalhos de Cao Guimarães e Manoela Medeiros faz coexistir produções que habitam diferentes disciplinas. Guimarães trabalha com a captação do acontecimento (poético, acidental, natural), através de imagens fotográficas e cinematográficas, enquanto Medeiros volta-se para a produção intencional do acontecimento material nas tipologias da pintura e do espaço expositivo. 

 

Os trabalhos de Cao Guimarães são obras expandidas, estabelecidas no trânsito entre a película, a partir do uso de Super-8, o vídeo e a fotografia. Por meio de um olhar atencioso e afetuoso, sua obra constrói um inventário poético de momentos variados e visualmente marcantes da vida cotidiana, que expande a ideia e o vocabulário da forma documental.

 

Em obras inéditas como Ventania (2004/2021) a ausência de movimento, característica da imagem fotográfica, é compensada pela sequencialidade e justaposição a outras imagens. Vídeos icônicos como O pintor joga o cinema na lata de lixo (2008) e Quarta-feira de Cinzas (uma parceria com Rivane Neuenschwander, de 2006) compõem a mostra ao lado de trabalhos mais recentes como Reza e Vovô, ambos de 2016, que trazem “micronarrativas ou “quase-narrativas”, fragmentos das experiências de personagens e também do artista, configurações sensoriais muitas vezes efêmeras, à beira do desaparecimento”, como coloca Consuelo Lins

 

Manoela Medeiros apresenta seus trabalhos pela primeira vez na Nara Roesler, marcando o início de sua representação pela Galeria. Em sua prática, Medeiros investiga a ambivalência entre os atos de construir e destruir, escavando superfícies, como as paredes do espaço expositivo, para trazer à tona as diferentes cores e materiais que ali foram aplicados e que permaneciam esquecidos. Medeiros visa refundar nossa experiência temporal ao expor, simultaneamente, as sucessivas camadas de uma edificação, cada qual portadora da memória do momento em que foi aplicada.

 

Os trabalhos da série Ruínas, que fazem parte da exposição, são exemplares do método de trabalho desenvolvido pela artista, no qual ela sobrepõe camadas de tinta e gesso sobre uma superfície e retira parte delas em seguida, de modo a criar pinturas que nos remetem aos efeitos da temporalidade sobre a arquitetura. No grupo de obras intitulado Continentes, por sua vez, Medeiros constrói mapas imaginários a partir de fragmentos de paredes e construções. Além de esculturas inéditas produzidas em gesso e concreto, Medeiros também apresenta duas obras site specific, nas quais a artista intervém diretamente sobre a superfície material do espaço expositivo.

A captação do acontecimento acidental na obra já referencial de Cao Guimarães e a exploração dos efeitos de duração sobre as materialidades artísticas de Medeiros – tais como o quadro e a galeria –, colidem e coincidem como formas poéticas de uma arqueologia no presente.

 

Núcleo Curatorial Nara Roesler
Artistic direction by Luis Perez-Oramas

Lydia de Santis
Head of curatorial affairs

Rafaela Ferreira
Head of institutional relations

Irene McAllister
Curatorial associate