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Nara Roesler São Paulo tem o prazer de anunciar Campos de energia: Fluxos fractais, coletiva organizada pelo Núcleo Curatorial da galeria e Luis Pérez-Oramas. A mostra apresenta uma seleção de diferentes práticas do campo do abstrato-geométrico, desde a geometria orgânica de Tomie Ohtake, até a pragmática algébrica e serial de José Patrício, passando por trabalhos de Abraham Palatnik, Heinz Mack, Julio Le Parc, Lucia Koch, Raul Mourão, Marco Maggi e Philippe Decrauzat, os quais desdobram suas ressonâncias na forma de energias visuais. A exposição fica aberta para visitação de 20 de agosto a 01 de outubro de 2022.

 

Em meados do século XX, diversos artistas atuando na América Latina e na Europa criaram proposições que tinham como foco a experiência do olhar. Informados pelas tendências das vanguardas abstrato-geométricas do início do século, em especial aquelas do Construtivismo russo e da Bauhaus, e guiando-se por princípios da óptica, os artistas organizam composições em que a racionalidade científica é aplicada na construção de efeitos visuais expressivos, fazendo-nos perceber como móvel aquilo que é estático, revelando-nos que a instabilidade da imagem observada, sua vibração no nosso olhar, corresponde a instabilidade do significado da obra como algo estabelecido de antemão pela intencionalidade do artista.  

 

Nesse sentido, Palatnik, no Brasil, Mack, na Alemanha, e Le Parc, na Argentina, foram pioneiros no desenvolvimento de trabalhos que se apoiavam em formas elementares e geométricas para a criação de proposições visuais em que o movimento real ou virtual, dado pelo ritmo e dinâmica da composição, interpelavam ativamente o olhar do público, produzindo efeitos surpreendentes, ilusões ópticas, sensações de perplexidade. 

 

Os trabalhos apresentados em Campos de energia: Fluxos fractais revelam não só as especificidades do desenvolvimento de experiências cinéticas e ópticas no momento histórico de seu florescimento, assim como propõe uma reinterpretação contemporânea deste capítulo da arte moderna. A manifestação, cinética ou não, de campos visuais energéticos responde à dimensão órfica, antiga, por meio da qual a arte reproduz, em seus objetos e mecanismos, as pulsões da natureza como energia. Para além da dimensão ortogonal, os trabalhos em exposição respondem à uma compreensão fractal das superfícies como espaços de intermináveis estrias e dobras: fluxos fractais. No momento atual, em que se observa o progressivo retorno de práticas figurativas, a mostra permite manter ecoando a importância dessa produção radical para nossa cultura.

 

Em muitos trabalhos, encontramos estratégias de repetição, progressão, contraste e gradação, como na obra de José Patrício, que faz uso de objetos encontrados no cotidiano, organizando-os em arranjos que amplificam as características dos materiais criando diferentes camadas rítmicas pelo modo como ele agencia a cor, a textura, a forma, os intervalos e a posição de cada objeto, encontramos muito dos princípios da prática de Palatnik que, em suas Progressão Jacarandá (1968), reorganiza lâminas de madeira de modo a criar ritmos visuais que reproduzem superfícies fractais pela justaposição dos desenhos de seus veios. Decrauzat e Le Parc, por sua vez, introduzem elementos composicionais que trazem pequenas distorções–dobras ou “acidentes” geométricos que produzem efeitos visuais–, ou permutações nas formas e nas cores, capazes de enganar o olhar.

 

O trabalho de Ohtake e de Maggi, por sua vez, se traduzem em composições em que o próprio gesto parece oferecer desvios ao vocabulário construtivo, levando-nos a perceber as tensões geradas pelo encontro entre o maquínico e o artesanal, o orgânico e o inorgânico, o real e o virtual, o racional e o expressivo. Nessa articulação de práticas individuais, Campos de energia: Fluxos fractais visa compreender como cada trabalho em exposição constitui um espaço que condensa as sucessivas ações de um artista na criação de uma forma. A obra continua emanando, pela vibração interna de seu fluxos fractais – as linhas, superfícies, texturas e cores que a compõem gerando figuras e efeitos imprevisíveis–, a potência desse ato criador que determina no público as dinâmicas próprias do encontro perceptivo com as obras.