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Nara Roesler São Paulo tem o prazer de anunciar Dinheiro Vivo, exposição individual de Vik Muniz, que apresenta, pela primeira vez, um grupo de trabalhos recentes do artista. Essa nova série, que empresta seu nome ao título da exposição, foi feita em parceria com Casa da Moeda do Brasil, que proveu fragmentos de papel moeda com os quais o artista realizou as composições. Acompanhada de texto do jornalista e escritor Eduardo Bueno, a mostra abre ao público no dia 04 de março e segue em exibição até 29 de abril de 2023.

 

Dinheiro vivo é uma série que se divide em dois corpos de trabalhos. O primeiro deles traz representados os animais que estampam as cédulas do dinheiro brasileiro , tais como a tartaruga marinha, o mico-leão-dourado, a arara vermelha, a garoupa, a garça e a onça pintada. As imagens são transposições das estampas das notas de Real, feitas a partir de fragmentos das mesmas que haviam sido descartadas pela Casa da Moeda. Sendo assim, a imagem do lobo-guará é feita com fragmentos de notas de duzento reais, já as da garça, com fragmentos de notas de cinco reais. Desse modo, Muniz traz como foco os aspectos simbólicos do dinheiro, para além do seu valor monetário.

 

Ainda que o material utilizado para a criação das imagens seja, literalmente, dinheiro, este não possui mais valor econômico, pois está destruído, picado em pequenas partes, sem serventia para as transações comerciais. Destituídas do valor financeiro, contudo, elas ainda são capazes de articular uma imagem, aquela do animal eleito para decorar as notas. Muniz nos conduz, assim, a uma reflexão sobre a ideia de valor e seus múltiplos sentidos. Afinal, o que dita o valor da arte? A matéria é mais importante do que a imagem? Ou seria o contrário?

 

No segundo grupo de trabalhos, Muniz recria pinturas e gravuras de paisagens brasileiras do século XIX, feitas por pintores viajantes, tais como Praya Rodriguez (1835), de Johann Moritz Rugendas, pintor alemão que participou da expedição Langsdorff; Floresta brasileira (1864), de Martin Johnson Heade, pintor de paisagem norte-americano que passou uma temporada no país; e Mata reduzida a carvão (1830), de Félix Taunay, parte da Missão Artística Francesa no Brasil, e posteriormente, diretor da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

 

Ao invés de cópias fiéis das imagens, procedimento que Muniz até então vinha realizando em séries como Pictures of Pigment, Pictures of Magazine e Repro, as obras de referência são transformadas, tendo em vista que os valores tonais das pinturas recriadas pelo artista correspondem àqueles presentes nas cédulas de Real. Ao escolher trabalhos de artistas estrangeiros que moldaram a imagem do Brasil no país e no exterior, alterando suas cores, o artista nos faz observá-las sob uma nova perspectiva.

 

Dinheiro vivo revela mais uma vez a engenhosidade de Vik Muniz ao abordar temas complexos da sociedade brasileira, jogando com diferentes sentidos de valor, a partir da apropriação de imagens que pertencem à nossa cultura. Muniz manipula questões sobre os estereótipos e a identidade brasileira a partir da reconstrução dessas imagens, colocando-as novamente em circulação, agora com uma nova camada de sentidos, advindos do deslocando do contexto original para o da arte, do jogo com escalas e da adaptação cromática. O artista convoca nossa atenção, de modo a nos levar a questionar a natureza das imagens que compõem nossa cultura visual.