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Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar Córte, exposição individual de Lucia Koch, que inaugura o calendário anual da galeria na capital carioca. A mostra abre no dia 16 de março e segue em exibição até 06 de maio de 2023, exibindo um conjunto de obras da série Fundos, um dos mais emblemáticos corpos de trabalho da artista. São trabalhos inéditos para o público brasileiro, alguns pensados especialmente para o espaço da galeria, e outros concebidos para sua exposição Double Trouble no Palais d’Iéna, em Paris, em outubro de 2022.


Há mais de duas décadas, Lucia Koch realiza as fotografias da série Fundos, na qual parte de um mesmo princípio: fotografa interiores de caixas de papelão, recipientes de plástico, entre outros tipos de embalagem dos mais diversos produtos. Ao serem ampliadas e instaladas, as fotografias tornam-se extensões virtuais dos espaços expositivos. A transformação pela escala e o olhar em perspectiva criam o efeito de um lugar inventado, enquanto as aberturas das embalagens reforçam a ilusão de arquitetura. O próprio nome da exposição faz referência a representações gráficas de projetos arquitetônicos, conhecidas como “cortes” transversais ou longitudinais, que complementam a informação dada pela planta baixa.


Ao se apropriar de um objeto banal, cotidiano, despido de sua função inicial de armazenamento, a artista conduz nosso olhar para os vazios deixados. Para isso, captura a imagem daqueles interiores fazendo uso de luz natural assim como adota um ponto de fuga central que confere profundidade à imagem. A maior parte das fotografias é impressa em grandes formatos, mas além da ilusão causada pela ampliação de escala, essas imagens também sugerem uma reflexão sobre o universo do consumo, a economia do descarte e o vazio.


Desde o início de sua produção, em 2001, as fotografias de Fundos têm sido apresentadas em inúmeras exposições, individuais e coletivas. Koch mostrou partes da série nas mostras da 8ª Bienal de Istambul (2003); da 27ª Bienal de São Paulo (2006), além da 11ª Bienal de Lyon (2011), e da 1ª Bienal de Rabat (2019). Outra exibição importante destas fotografias aconteceu a partir de um convite de Marisa Monte: na turnê de seu último álbum, com direção artística de Batman Zavareze, imagens como Café Extra-Forte e Frutas foram projetadas sobre a caixa-tela criada no fundo do palco. Marisa e sua banda pareciam ocupar os espaços vazios fotografados.

 

Outros projetos recentes de grande repercussão foram: PROPAGANDA, comissionado pelo Instituto Inhotim (programa Território Específico), em 2021-22; e Double Trouble, sua intervenção no Palais d’Iéna, em 2022. No primeiro, as imagens das embalagens de produtos locais foram apresentadas, simultaneamente, em outdoors de publicidade na cidade de Brumadinho, e em estruturas construídas e instaladas no espaço aberto do parque e dentro de um espaço expositivo de Inhotim. Em Double Trouble, Koch apresentou pela primeira vez fotografias montadas em estruturas autoportantes como em algumas obras exibidas em Córte.


Estas fotos-objeto têm a escala do corpo humano e, com sua estrutura de madeira perpendicular ao piso, parecem confrontar o corpo do observador de forma mais direta. Enquanto nas fotografias expostas diretamente sobre as paredes, a profundidade da imagem cria a impressão de um espaço que se prolonga para dentro da sala onde estamos, aquelas erguidas diante de nós parecem gerar uma espécie de arquitetura autônoma.


Córte revela o modo como essas fotografias sintetizam modos de operar e questões estruturantes da prática da artista, em especial o uso da linguagem da arquitetura, a desordem de escalas e a transformação temporária dos lugares.