rio de janeiro 12.9 - 4.11.2023

amelia toledo o rio (e o voo) de amelia no rio,

Amelia Toledo

série Frutos do mar, 1982

moldagem em resina poliéster exposta à ação do mar para a formação de cracas e briozoários

sobre

Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar O rio (e o voo) de Amelia no Rio, a primeira individual de Amelia Toledo (n. 1926, São Paulo, Brasil – m. 2017, Cotia, Brasil) em sua sede carioca. A mostra tem como ponto de partida uma série de trabalhos desenvolvidos pela artista no período em que viveu no Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980, trazendo também uma seleção de obras mais recentes, que dão seguimento às experimentações que Amelia inicia nesse período. Ponte permanente entre a natureza concreta da abstração moderna e a própria natureza, a pesquisa carioca de Toledo marca o desenvolvimento de uma obra pioneira, que poderia se qualificar como abstração ecológica. Amelia Toledo foi renovadora das fontes organicistas da modernidade, mantendo o mundo orgânico como fonte e destino de sua obra.


Amelia Toledo iniciou seus estudos sobre arte na década de 1930, e em seu período formativo, tomou contato com algumas figuras chave do Modernismo brasileiro como Anita Malfatti, de quem foi aluna, e Vilanova Artigas, com quem trabalhou realizando desenhos arquitetônicos em seu escritório. 


Ao longo de sua trajetória, a artista fez uso de variados meios e técnicas, transitando entre pintura, desenho, escultura, gravura, instalação e design de jóias, sempre mantendo uma grande atenção às especificidades da matéria e à sua aplicação. Seu trabalho esteve alinhado, primeiramente, com a pesquisa construtiva, ecoando noções do neoconcretismo e as preocupações correntes na década de 1960, em especial o interesse pela participação do público, assim como o entrelaçamento entre arte e vida. Toledo desenvolveu seu corpo de obra multifacetado a partir do diálogo duradouro e enriquecedor com outros artistas de sua geração, incluindo, Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica e Lygia Pape.


A partir da década de 1970, seu trabalho adquire um caráter profundamente experimental, com um interesse voltado para formas orgânicas e linguagens pouco usuais. Dentre os trabalhos históricos e emblemáticos da artista desenvolvidos nesta época, está Divino Maravilhoso – Para Caetano Veloso (1971), um livro de artista dedicado ao cantor e compositor. Também estão presentes na mostra trabalhos que representam a série apresentada em 1976 no MAM do Rio de Janeiro, na individual Emergências , como a obra Reunião (1976) bem como um conjunto de trabalhos realizados sobre jornais da época, em que a artista recobria partes da superfície com impressões de mãos e pés humanos e patas de animais. Essas manchas, ao mesmo tempo que indicam rastros de uma presença, obliteram a leitura das notícias. A mostra, de modo geral, e essa série, em particular, dialogavam com os tempos sombrios da Ditadura Militar, em vigor no Brasil.


A seleção também apresenta outros marcos da obra de Amelia criados no período em que viveu no Rio de Janeiro, quando suas investigações sobre as relações entre arte e natureza se aprofundam, e elementos naturais passam a ser incorporados às obras. É o caso de Gambiarra (1976), O Cheio do Oco (1973) e trabalhos da série Frutos do Mar (1982). Nestes, a artista expõe moldes de conchas produzidos em poliéster à ação do mar, até que fiquem cobertos por  cracas e briozoários, conferindo a essas esculturas um aspecto vivo, e explorando o encontro entre o natural e o artificial.


Além de obras icônicas, a mostra reúne pinturas e aquarelas inéditas criadas na década de 1980 por Toledo, como a série Anotações da Casa, em que a artista busca representar sua experiência da luz, de seu espaço criativo e de sua morada no Rio de Janeiro.

Nesse mesmo período, Amelia Toledo reinsere a pintura abstrata em sua prática, trazendo muitas de suas observações anteriores para o campo pictórico, que irá desenvolver até o fim da vida em séries como Campos de Cor e Pinturas de Horizonte. Nelas, a artista explora sobretudo a cor e a paisagem, presentes também em outras linguagens de sua poética, por meio de pinceladas gestuais delicadas.


Outro objeto de seu interesse também abordado pela exposição, as pedras e minerais passam a ser centrais na obra de Toledo a partir dos anos 2000.  


Em trabalhos como Impulsos, Minas e Canto das ametistas (2001), a artista faz uso de pedras para investigar cores, brilhos, transparências e as variadas formas do que chamava de “carne da terra". Toledo criou composições nas quais as peças coletadas das profundezas de cenários naturais são dispostas em variados arranjos, inclusive em diálogo com materiais “modernos”, como o aço inoxidável. As rochas não foram submetidas a nenhum tratamento que alterasse suas características originais, sendo apenas polidas de modo a revelar seus desenhos internos feitos pelos delicados veios capazes de revelar sua temporalidade.