A Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresenta Essa cidade sempre maravilhosa, coletiva com curadoria de Theo Monteiro que busca discutir características, elementos culturais, situações e contradições da cidade do Rio de Janeiro através das obras de doze artistas de diferentes linguagens e gerações.
O título da exposição faz referência a um trecho de um samba de autoria de Ismael Silva (1905-1978), intitulado Antonico. Antes de entoar a música, Silva faz uma breve apresentação de si para seu público: “Meu nome é Ismael Silva, nasci em Jurujuba, Niterói, e fui para o Rio, essa cidade sempre maravilhosa, aos três anos de idade (...)”. A fala sobre a cidade, no entanto, vem carregada de ironia, mostrando que, por trás de frases de efeito e lugares comuns, existe grande complexidade e uma série de elementos contraditórios.
A mostra se divide em dois núcleos, cada um deles situado em um dos pisos da galeria. No pavimento inferior estão trabalhos que discutem temas e questões ligadas ao cotidiano e a realidades mais palpáveis, como a desigualdade social, muito presente no dia a dia da cidade, se materializa de diferentes maneiras nos trabalhos. Como parte deste núcleo, é a obra "Valongo", de Jaime Lauriano, da série Pedras Portuguesas, desenvolvida pelo artista desde 2017 e no qual, fazendo uso do material amplamente utilizado no calçamento da orla da cidade, Lauriano inscreve nomes de antigos portos de saída de pessoas escravizadas, fundados por Portugal ao longo da costa africana. Outro trabalho que compõe o núcleo, é o vídeo Bang Bang, de Raul Mourão, no qual algumas de suas esculturas cinéticas são alvejadas com tiros, fazendo menção à violência presente na cidade decorrente de determinados projetos urbanos .
Manifestações culturais e uma série de saberes florescem na antiga capital, aspectos visíveis nos trabalhos das artistas Ana Hortides e Priscila Rooxo. Enquanto Hortides explora em sua poética elementos ligados aos saberes construtivos e domésticos presentes na arquitetura popular, Rooxo retrata aspectos do cotidiano periférico do Rio e municípios adjacentes, como o trabalho, as festas e vestimentas, que fazem parte da construção de uma narrativa emancipatória dessas comunidades.
No piso superior estão obras que discutem aspectos da cidade que estão ligados ao espiritual, ao onírico e ao mitológico. Nas palavras do curador Theo Monteiro: “Em uma cidade onde a vida se faz veemente, o transe, o culto e o sonho desempenham um papel crucial, são uma forma de extravasar e sobreviver”. Neste núcleo, um dos destaques é o Maracanã, vídeo de Marcos Chaves que será exibido pela primeira vez na cidade e na qual o artista mostra o antológico estádio, completamente lotado, mas com as luzes apagadas e iluminado somente por lanternas e celulares. Aspectos perturbadores ligados a essas formas de “extravasar”, contudo, também se materializam através dos trabalhos de André Griffo e Yohana Oizumi. Com diferentes linguagens, os dois discutem consequências ligadas a aspectos do fundamentalismo religioso, ele por meio da pintura, ela através de um trabalho escultórico.
Ainda que a maior parte dos artistas da exposição sejam do Rio de Janeiro, dois são de fora da cidade e um é estrangeiro. Para o curador, no entanto, as discussões por eles apresentadas dialogam profundamente com os aspectos presentes na cidade: “o alcance das situações e questões vividas pelo Rio de Janeiro já transcende os limites do município, se fazendo presente também em outras regiões do Brasil e alimentando o imaginário estrangeiro.”