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A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Thiago Barbalho: Segredos e Feitiços, primeira individual do artista na sede paulista da galeria. Tendo o desenho como principal eixo de sua poética, Barbalho iniciou sua trajetória profissional como escritor e, segundo o artista,"o desenho veio do processo de insatisfação com a escrita, do esgarçamento dessa relação." Gradualmente Barbalho percebeu que, por meio de grafismos e signos, muitas vezes realizados acidentalmente, era possível elaborar sobre a imensa maioria de imagens e estímulos visuais com os quais  nos deparamos cotidianamente. Para ele, os estímulos visuais que nos rodeiam, das mais diversas naturezas, de símbolos religiosos a anúncios publicitários, provocam fascínio e encantamento em quem os observa, como se estes “nos enfeitiçassem”. 

 

Assim, em seus trabalhos, uma profusão de elementos orgânicos, religiosos e ancestrais de colorido intenso estão diluídos em meio à grande quantidade de detalhes presentes nas composições, onde, por vezes, figura e fundo se confundem. Outro dado importante é a gestualidade e as diferentes maneiras com que o artista manipula o lápis de cor, o pastel, as canetas e marcadores, bem como a tinta acrílica e óleo. 

 

A mostra reúne diferentes formatos de trabalhos, desde obras de grandes dimensões até desenhos feitos em pequenos cadernos. Nestes desenhos, executados em suportes de pequenos formatos, o elemento gestual de sua produção fica particularmente evidente, sobretudo pelo fato desse tipo de trabalho acabar servindo de elemento de elaboração para produções de maiores dimensões, reforçando seu caráter experimental. 

 

Assim como um dia o gesto de desenhar rompeu os limites das palavras para Barbalho, o artista entende que a iniciativa de trabalhar com a tridimensionalidade das esculturas expande a própria linguagem do desenho, da forma como são concebidas por ele. Em diferentes dimensões, as esculturas produzidas principalmente com impressão 3D e resina, adensam os símbolos já presentes nas obras bidimensionais do artista e os conectam. "Elas me fazem pensar em emojis e em imagens de deidades perdidas numa floresta, pokémons, cactos alienígenas, oferendas de civilizações, símbolos que em numa conversa de whatsapp nos permitem abandonar palavras", completa o artista. 

 

Outro destaque da exposição é um conjunto de trabalhos realizados pelo artista para uma exposição ocorrida mais cedo este ano no município de Jardim do Seridó, interior do Rio Grande do Norte, terra natal de sua mãe. Nessas obras, Barbalho revisita elementos característicos da cultura da região, como pinturas rupestres presentes nas cavernas locais, a paisagem semiárida e técnicas de produção têxtil artesanal. Também parte desse conjunto é a tapeçaria Futuro, desenvolvida para a mesma exposição em conjunto com o coletivo Flor de Cantuta, composto por mulheres tecelãs imigrantes e inspirada em um tipo de produção artesanal amplamente presente na região. Nas suas palavras: “Eu quis reunir variadas referências, desde os açudes e rios da nossa terra, até o artesanato potiguar, com suas tapeçarias e colchas. Mas quis fugir dos clichês associados à arte nordestina em geral”, conclui.

Entre 16 de julho e 29 de setembro de 2024, a curadora Catarina Duncan e o artista estabeleceram uma troca de e-mails como método de acompanhamento investigativo e interlocução em torno da obra do artista. A conversa atravessa a prática artística de Barbalho, o desenvolvimento da exposição e ao mesmo tempo abre espaço para divagações e relatos pessoais entre notícias da atualidade, sonhos e referências de pesquisa. A correspondência foi impressa e estará disponível na exposição.