7 - 28.6.2025

luis pérez oramas e núcleo curatorial nara roesler ruído estelar,

Tomás Saraceno

Foam SB 128/45b  2024

aço inoxidável com revestimento em pó, plexiglass iridescente e monofilamento

90 x 92 x 98 cm

sobre

A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Ruído Estelar, exposição coletiva com curadoria de Luis Pérez Oramas e o Núcleo Curatorial Nara Roesler. A mostra conta com 36 obras dos artistas: Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Artur Lescher, Brígida Baltar, Bruno Dunley, Cao Guimarães, Heinz Mack, Julio Le Parc, Laura Vinci, Mônica Ventura, Paulo Bruscky, Rodolpho Parigi, Tomás Saraceno e Tomie Ohtake

 

Para os curadores, as obras de Ruído Estelar constitui em um conjunto metafórico que sugere que talvez o mundo das formas artísticas – recipientes eles próprios de energias vitais e mnemônicas – possa ser compreendido em termos de “campos” ressonantes, como a realidade que nos é revelada pela física. Esses seriam campos de “figurabilidade”, onde as formas nunca cessam de emergir, carregando dentro de si a ressonância de outras formas – consciente ou inconscientemente, passadas ou presentes, esquecidas ou inesquecíveis – em um constante exercício de tornar atual a energia figural que as constitui e que nunca cessa de se transformar, de se transfigurar.

 

O ponto de partida foi a “música das estrelas”, ouvida, identificada e registrada pela primeira vez em 16 de setembro de 1932, às 19h10, nos campos de Nova Jersey por Karl Jansky (1905-1950), físico e engenheiro especializado em ondas de rádio. Empregado pelos Laboratórios Bell Telephone, ele tinha a tarefa de estudar as fontes de interferência “estática” nas comunicações radiotelefônicas transatlânticas. Para fazer isso, Jansky construiu um dispositivo receptor de ondas de rádio, e ao longo de três anos conseguiu definir três tipos de recepções estáticas: tempestades próximas, tempestades distantes e o que chamou de “um chiado persistente, também de origem estática, cuja fonte é desconhecida”. Com sua antena giratória, no entanto, Jansky pôde identificar a direção de onde os sinais estavam vindo. O estranho chiado ocorria exatamente a cada 23 horas e 56 minutos — quatro minutos a menos que um dia solar — correspondendo assim à duração de um dia sideral. A maior intensidade registrada em 16 de setembro de 1932 permitiu-lhe sugerir que a origem do ruído não vinha do sistema solar, mas do centro da Via Láctea, na constelação de Sagitário. Alguns dias depois, Jansky afirmou que as ondas de rádio que ele havia captado realmente vinham do “centro de gravidade da galáxia”.

 

Anos depois, em 1974, no Observatório Nacional de Radioastronomia, Bruce Balick e Robert Brown descobriram o objeto no centro da Via Láctea de onde se originava o chiado que Jansky havia registrado: Sagitário A*, o imenso buraco negro, 4,3 milhões de vezes mais massivo do que o sol, e resultado de um colapso estelar.

 

O ruído das estrelas é o leve chiado de um passado sideral, o traço deixado pelos holocaustos de origem, que primeiro nos alcançou através da antena de Jansky. Desde então, outras canções tênues foram registradas: ressonâncias cósmicas de fundo ou, mais recentemente, o minúsculo ruído de dois buracos negros massivos colapsando a bilhões de anos de distância — a certeza de que ondas gravitacionais existem em um espaço-tempo curvo pelo efeito de massas astrais. Mas mesmo os cientistas mais experientes não sabem o que acontece dentro de um buraco negro. Alguns pensam que tempo e espaço podem de fato se dissolver ali, perdendo toda a orientação.

 

A partir das obras de Laura Vinci, Abraham Palatnik, Tomás Saraceno, Tomie Ohtake, Bruno Dunley, Monica Ventura, Artur Lescher, Cao Guimarães, Paulo Bruscky, Rodolpho Parigi e Julio Le Parc, a exposição busca sugerir uma cena análoga em que as obras de arte seriam objetos que, como as antenas de Jansky, capturam ressonâncias de fundo de seus próprios campos figurais. Ou por imitarem a aparênciade dispositivos técnicos (Saraceno, Vinci, Ventura, Lescher); ou por apresentarem composições semelhantes à representação e ao registro de ressonâncias cósmicas (Le Parc, Dunley, Palatnik, Ohtake, Parigi); ou por incluírem, com tons irônicos, referências a rádios e antenas de rádio (Guimarães, Bruscky).