rio de janeiro 21.8 - 11.10.2025

daniel senise vivo confortavelmente no museu,

sobre

A Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar Daniel Senise – Vivo Confortavelmente no Museu, individual do artista que reúne 13 trabalhos inéditos, produzidos ao longo dos últimos dois anos. Tais trabalhos, produzidos em seu novo ateliê, incorporam novos processos e materiais, a partir de sua coleção de capturas em tecido, feitas desde o início dos anos 2000, de chãos e paredes de locais em ruínas, históricos ou de seus próprios ateliês. Recortando e colando com precisão pequenos pedaços desses panos, Daniel Senise reconstitui a imagem do lugar em que as capturas foram feitas, ou recria outros espaços, como salas, perspectivas e fachadas de museus e instituições de arte. Mais recentemente, passou a acrescentar nesses novos tecidos materiais como tinta líquida, pó de ferro, betume e carvão. O texto crítico da mostra é de autoria do crítico Luiz Armando Bagolin, e o título faz alusão a uma frase dita por um personagem do livro “A invenção de Morel”, de Bioy Casares (1914-1999) – um condenado à prisão perpétua, que chega a uma ilha, e chama de museu a construção abandonada em que mora.

 

Dentre os trabalhos presentes na exposição, se destacam desdobramentos de algumas séries já conhecidas da trajetória de Senise, como a série Museus e Galerias. Uma das criações que ele faz justapondo tecidos impressos consiste em representações de interiores de museus e galerias, despindo-os de todos os elementos que não são os da própria arquitetura. De acordo com Luiz Armando Bagolin em seu texto, as obras de Senise “funcionam como painéis de um museu do futuro, no qual veremos não mais as imagens canônicas, mas as suas ausências: o que restou delas após o tempo, o descaso, o colapso do olhar. E, ainda assim, essa ausência é habitada. Porque o que se vê, nessas superfícies preparadas como um palco da desaparição, não é o vazio, mas a memória da imagem enquanto forma de sobrevivência – como se a arte, mesmo depois de apagada, ainda deixasse uma poeira de sentido suspensa no ar”. Complementa também que: “As obras recentes de Senise não se oferecem como enigmas a serem decifrados, mas como zonas de indeterminação onde a imagem já não se dá como presença plena, e sim como intervalo, ruído ou resíduo. Não há aqui um discurso fechado sobre o fim da pintura – há, antes, a sustentação poética de sua latência. O que se vê é o que ainda não chegou completamente a ser, mas que insiste em permanecer. Em tempos de saturação imagética, talvez seja esse o gesto mais radical: devolver à pintura o poder de ser lacuna, silêncio e espera”.

 

Em outro conjunto de trabalhos, Senise acrescenta sobre os tecidos impressos materiais como betume, carvão e pó de ferro, o que faz com que surjam manchas na composição, algo que, segundo o próprio, foi muito presente em trabalhos seus das décadas de 1980 e 1990. Dessa maneira, seus trabalhos recentes seriam uma espécie de conexão com momentos anteriores de sua poética. 

 

Durante muito tempo, o artista chamou seus tecidos impressos de “monotipias”, termo que agora abandonou, passando a empregar “capturas”. Segundo o artista, nesses trabalhos há “uma transferência de matéria. É uma vez só. Por isso eu usava monotipia. Mas monotipia não é necessariamente uma transferência de matéria. O trabalho tem uma matéria que estava na parede”. Se ao longo do tempo, muitas dessas “capturas” eram feitas em pisos, ao longo dos últimos anos Senise tem as realizado em paredes, retendo frequentemente algumas de suas camadas.