As inúmeras possibilidades de combinação numérica realizadas em materiais cotidianos voltam a ocupar a Galeria Nara Roesler a partir do dia 14 de junho, sábado, com a abertura da individual do pernambucano José Patrício. São cerca de 12 trabalhos de séries como Afinidades Cromáticas, produzidos no período de 2012/2013 em elementos como botões e quebra-cabeças.
Sobre a série Ars Combinatoria, em que Patrício cria intrincados mosaicos geométricos por meio da combinação das peças de dominó, o crítico Paulo Sérgio Duarte comentou em 2002: "Incorporado, como ponto de partida, o terreno da combinatória matemática, nos encontramos com a combinação das séries, infinitas nas suas possibilidades. O problema não é mais a reprodução do mesmo; trata-se, agora, de, a partir do mesmo, produzir infinitos outros".
A afirmação evidencia a premissa subjacente às instalações do artista, cuja utilização da cor e da forma também aproxima seus trabalhos da pintura. A disposição ordenada dos elementos cotidianos faz remissão direta à imagética do concretismo. Corroborando essa ideia, o mesmo Paulo Sérgio Duarte inclui Patrício na linhagem do “artista contemporâneo que não despreza a história, que entende o fenômeno artístico como um campo cultural específico no interior de uma tradição” e que por isso “trabalha sob a pressão de fortes paradigmas”.
Se o concretismo visa ao elogio da razão e da ciência, José Patrício insere nesse universo dados subversivos. Os artefatos corriqueiros com os quais ele forma padronagens ora de mosaicos bizantinos, ora de um construtivismo literal, primeiramente enganam o olhar desavisado. Por sua potência formal, o todo se impõe de antemão para depois ceder lugar ao exame dos pequenos componentes.
É assim, por exemplo, com a série Afinidades Cromáticas. Os quadrados concêntricos são formados por miríades de botões de roupa de formatos e cores variados, na inserção do dado humano por um viés insuspeito. Em lugar da pincelada perceptível em uma pintura visceral, o uso de elementos prosaicos rompe o distanciamento inicial para dar lugar a um sentimento de familiaridade.
A multiplicação desses artefatos em padronagens que formam até mesmo labirintos não é ocasional. É fruto de cálculo, de elaboração, da busca pela disposição que permite o melhor efeito, ou seja, do engenho humano. Com a dupla perspectiva macro e microvisual, o que se delineia é uma matemática que deixa vir à tona, por entre sua coesão estrutural, a dimensão lúdica do cotidiano.