Galeria Nara Roesler Rio de Janeiro apresenta X, primeira exposição de Milton Machado na GNR RJ e a terceira na Galeria Nara Roesler, com trabalhos fotográficos que abordam a cultura contemporânea com a sagacidade única de Machado
Milton Machado estreia na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro com X, primeira individual do artista desde a retrospectiva Cabeça, que exibiu em 2014 e 2015 seus 45 anos de carreira nos CCBBs do Rio e de Belo Horizonte. A mostra X, com abertura no dia 14 de abril, aborda com uma perspicácia muito particular ao artista, os aspectos da cultura contemporânea por meio de um vídeo e de vários trabalhos fotográficos. Nestes, a justaposição e a clivagem de elementos e cenários enfocados tanto pelas lentes de Machado quanto por outros artistas (por apropriação) sugerem narrativas não lineares e abertas.
A produção de Milton Machado é plural, com incursões em suportes variados. É o caso do desenho, usado mais enfaticamente por Machado no início de sua carreira, nos anos 1970, por meio do qual criava projetos de cidades aparentemente coerentes, mas na verdade impossíveis. Ao longo de sua trajetória, passou a fazer instalações de grande escala; a apropriar-se de mobiliário de escritório, como os gaveteiros de metal que empilhava como escadas; a usar a fotografia e o vídeo.
Nesta mostra, ele reúne trabalhos fotográficos produzidos entre 1995 e este ano. O que está em jogo aqui não é a fotografia, pois o próprio artista não se entende como fotógrafo, mas a produção de sentidos múltiplos pela junção de signos e elementos os mais diversos. Como em outras exposições de Machado, a totalidade das obras não é irrelevante: por meio dela, o artista adiciona uma camada a mais de interpretação, na produção de um sentido global pela somatória das imagens, a exemplo de um mosaico de peças desiguais que se conectam por suas similaridades e paradoxos. As narrativas podem ser isoladas em cada obra ou vistas como uma grande história, na articulação entre os trabalhos.
Nas palavras do artista, “X. Cancelamentos? Rasuras? Empresas falidas? Nem tanto. Aqui, nessa sequência marota de oposições, isso x aquilo visa às multiplicações e potencializações. Em outras palavras, intensidades. Tipo Descartes x Montaigne, Rubens x Poussin, Frajola x Piu-Piu, vassouras x espelhos, raios x rios, moscas x manequins. Talvez seja o caso de admitir que tratamos – recorrendo a essas tantas narrativas fotográficas – com uma negociação produtiva entre diferenças.”
Um exemplo é o trabalho Realismos (França, 1886 / Santa Teresa, Rio, 2005). Nele, uma fotografia de duas moças dormindo num amontoado de lençóis, no fundo de um quintal mal-ajambrado, é posta lado a lado com uma pintura de Courbet. O efeito de aproximação entre ambas é obtido pela simetria entre linhas geométricas, figuras e posturas, embora as cenas sejam totalmente discrepantes. Casamentos, faróis de carros, um manequim com uma mosca pousada no rosto, uma lanchonete, um pote de mel que funciona como chamariz para abelhas: os códigos embaralham-se e produzem narrativas de acordo com o interlocutor. Na mira, a lógica formal que condiciona o pensamento contemporâneo à instrumentalização, por meio da repetição do cânone.
Completam a lista de obras os trabalhos American Beauty (5th Avenue, NY, 2015); Duplo (Gray’s Papaya, NY, 2010); Michelangelo com Faróis (Metropolitan Museum, NY, 2010); Green Cap Loop Drive (Central Park, NY, 1995); Judd’s Drawing Lesson (NY, 2010); Body Pressure (Berlin 2013); Beuys Dormindo (PROA, Buenos Aires, 2014); Fraulein (Roupa molhada de jovem mulher, Joseph Beuys, 1985/Santa Teresa, Rio, 2014); Prince (NY, 2010); Sweep (São Paulo, 2013); New York Cars (NY, 2013); Two Weddings (San Francisco, 2012); Dupla Exposição (NY, 2015); Gradações Extremas na Categoria dos Instantâneos (1974), Um Passo Atrás (San Francisco, 2012); Bond Cab (Londres/Rio, 2001), The Last Land (Bienal de Veneza, 2005); Stray Bullets [Balas Perdidas] (Rio de Janeiro, Londres, NY, 1996-...); Raio x Rio (Ilha do Contrato, Baía de Camamu, Bahia, 2008-09).