O questionamento da representação na pintura de Bruno Dunley ganha espaço na Galeria Nara Roesler a partir de 8 de maio. Em sua primeira mostra individual, intitulada No lugar em que já estamos, na Galeria Nara Roesler, o artista de 30 anos, um dos expoentes da geração de pintores 2000e8, apresenta cerca de 20 trabalhos de sua produção recente, realizados em 2013-14. O crítico João Bandeira assina o ensaio sobre a mostra.
Na definição do artista, seu trabalho “é uma análise sobre a própria natureza da pintura, sua natureza sensível, seus códigos de linguagem como o gesto, o plano, a superfície, a representação... questões comuns ao universo da linguagem pictórica, entendidos como alfabeto, uma superfície de escrita comum”. Dessa premissa, derivam os vários procedimentos e resultados que competem para criar uma leitura particular do mundo atual.
Por trás da leveza poética das telas de Dunley, estão camadas de tinta sobrepostas e muito trabalhadas, sob as quais a textura do suporte desaparece. Paradoxalmente, essa complexidade processual opera para imprimir simplicidade visual, resultando em anti-imagens difusas, diluídas nas pinceladas que retocam e derretem contornos. A “mão” do artista, o gesto que marca a presença do sujeito na obra e seu questionamento, sua negação, não se perdem ou se atenuam, são elementos fundamentais de uma pintura que se coloca como depoimento do tempo em que surge.
A figuração fugidia que se impõe nessas circunstâncias é, antes, uma dúvida sobre a realidade ao redor, sobre a objetividade da percepção do mundo, e não uma afirmação positivista da acepção dos acontecimentos. Daí a evidenciação dos retoques, correções de traços e erros que deixam sua marca como cicatrizes.
Não à toa, Dunley enfatiza em sua produção mais recente a questão da cor, que para ele traz força a seu trabalho recente, em oposição ao preto, branco e cinza predominantes nos três anos anteriores.
Pela variedade de temas retratados e de procedimentos pictóricos utilizados para atingi-los, a pintura de Bruno Dunley busca “evidenciar uma relação viva através das diferenças; tirar forças da imperfeição, da diferença, do ‘errado’, dos opostos, para com isso criar um caminho possível e comum”. “Os trabalhos da exposição possuem uma visualidade variante entre eles. Há uma mudança da função da imagem, uma descrença em um único caminho de representação, uma descrença na afirmação da unidade do trabalho e de sua identidade através de um estilo - uma repetição visual fortemente demarcada. É através da articulação entre maneiras de fazer, formas de visibilidade e uma reflexão sobre suas relações, que implica na construção de uma efetividade, que o trabalho se apoia e se afirma.”