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A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Perambulante, quarta exposição individual de Marcos Chaves em seu espaço paulistano, com curadoria de Luisa Duarte. A mostra reúne 27 fotos feitas entre 1996 e 2016, além de três vídeos produzidos em 2016.

 

O título descreve uma caminhada tranquila e sem rumo pelas cidades, crônicas fotográficas da vida cotidiana vista pelas lentes do artista, que retira objetos banais do contexto lógico, substituindo-o por associações mentais relacionadas ao humor e ao acaso. As obras de Marcos Chaves se revelam por dimensões distintas. Pela objetividade explícita, como fonte primária de trabalho estético, que posteriormente sofre uma metamorfose e torna-se mais implícito, pelo contexto puro e simples ou pelo contexto fornecido pelas palavras aliadas a imagens, objetos e fotos. Os objetos escolhidos são sempre familiares, ocultos em alianças incomuns, e o autor utiliza o mundo cotidiano como contraponto aos clichês discursivos sobre vida e arte para que o público possa criar uma narrativa original.

 

Marcos usa também o humor como catalisador de seu trabalho, recorrendo a registros visuais diversos para criticar a cegueira com que se veem as coisas corriqueiras sob a influência das convenções socioculturais. Para ele, o processo de criação de uma obra de arte pode consistir em retirar um objeto comum de seu ambiente funcional, combiná-lo com outros objetos, contextos ou referências e então apresentá-lo com legendas diferentes das que se esperaria para ele.

 

Segundo Luisa Duarte, pode-se afirmar que a bussola da obra do artista é o desvio, e através da apropriação ou da intervenção, Marcos Chaves desloca significados correntes, banais, gerando a aparição de sentidos antes inauditos. “Trata-se do olhar agudo que se descola do habitual, reflete e produz o novo na linguagem, tendo como motor um misto contundente de humor e ironia. A escolha por estes recursos não é casual, e sim consistente, pois os mesmos são portadores de um alto grau de potência desviante: o humor e a ironia são dispositivos que acertam o alvo pelo caminho menos óbvio”.

 

Em Perambulante a curadora lembra também uma passagem de Drummond, segundo a qual as palavras estariam todas, em um primeiro momento, em “estado de dicionário”. O que o poeta faz é retirá-las desse estado primeiro, mudo, e combiná-las de tal forma que, juntas, se tornem poesia. “Perambulante pode ser vista como um só e grande movimento de articulação que retira os entes mais prosaicos da vida urbana de seu ‘estado de dicionário’. O trabalho de Marcos Chaves nos recorda assim o gesto singular do olhar, cada vez mais obliterado pelo excesso de imagens e informações. Contra o embotamento causado pelo hábito sua obra constitui-se em um poderoso antídoto”.

 

Esta mostra se desdobrará em outra que ocorrerá na sede da galeria em Nova York, a partir do dia 29 de fevereiro de 2017.

 

sobre o artista

Marcos Chaves (n. 1961, Rio de Janeiro, Brasil) vive no Rio de Janeiro. Chaves começou sua carreira artística no início de 1960 e como um artista conceitual, suas fotografias, videos, assemblages e instalações de grande escala, transformam experiencias e materiais cotidianas negligenciados em objetos de arte. Seus trabalhos paródicos e espirituosos usam o humor para obscurecer uma sensibilidade trágica e poética. “O humor abre caminhos. Às vezes você pode rir de alguma coisa, mas pode não ser algo tão engraçado. O humor pode nos fazer parar e pensar”. Chaves sobrepõe o texto a fotografias, documenta suas próprias intervenções artísticas em fotografias e vídeos, e instala objetos “não-arte” pré-existentes em contextos artísticos de uma maneira que lembra Marcel Duchamp. Em seu trabalho Academia, o artista criou uma academia a céu aberto onde pessoas da cidade do Rio de Janeiro podiam usar os objetos da exposição para se exercitar. A instalação incluía cimento, tubos de ferro, madeira e varas. O próprio título é um trocadilho com a importância do samba e das academias na vida cotidiana dos Cariocas. Exposições recentes incluem: ARBOLABOR (Centro de Arte de la Caja de Burgos, Espanha, 2015); Academia (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brasil, 2014); Narciso (Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); I only have eyes for you (Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Pieces (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2011).Participou da 1a e da 5a edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (1997 e 2005), todas no Brasil. Da 17a Bienal de Cerveira, em Portugal (2013), e da 54a Bienal de Veneza, Itália (2011), entre outras.