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A Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro tem o prazer de inaugurar seu calendário de 2020 com Dríades e Faunos, individual do fotógrafo paulista Cássio Vasconcellos. Essa é a primeira mostra do artista na galeria, que o representa desde 2019. Em sua estreia, o fotógrafo apresenta sua mais recente série de trabalhos, que versa tanto sobre a potência expressiva da natureza quanto sobre a relação entre pintura e fotografia.

 

Dríades e Faunos (2019-2020), série cujo nome também dá título à exposição, é um desdobramento da pesquisa iniciada em 2015 com Viagem pitoresca pelo Brasil (2015 – atual), baseada nas expedições artísticas e científicas que ocorreram no Brasil durante o século XIX. Esses empreendimentos reuniam artistas e cientistas de diferentes especialidades com o objetivo de percorrer e se embrenhar em nosso território, ainda pouco conhecido na época, a fim de explorá-lo e mapeá-lo.

 

A expedição Langsdorff, de 1825, por exemplo, trazia em sua comitiva o botânico Ludwig Riedel, tataravô de Vasconcellos. Esse elo pode nos sugerir um fascinío, herdado no âmbito familiar, pelo mistério da natureza como motivo, o que talvez tenha levado o fotógrafo a se interrogar sobre a impressão que a vastidão das nossas matas produziu nos artistas e cientistas daquela época. Mais do que alcançar o mesmo resultado das imagens do período, ele busca um efeito similar. Para isso, ele altera a sensibilidade e o intervalo de exposição da câmera para produzir uma fotografia que também será editada digitalmente.

 

Nas imagens capturadas, pode-se observar a exuberância das florestas brasileiras, em especial da Mata Atlântica, que permeia a costa leste brasileira e, principalmente, a região sudeste. O público irá se deparar com paisagens que compõem o cenário da cidade do Rio de Janeiro e seus arredores, tais como a Floresta da Tijuca, a Serra dos Órgãos e o Parque Nacional do Itatiaia, assim como de outros lugares do país. Muitas das viagens realizadas por Vasconcellos para capturar as imagens foram feitas em companhia do seu amigo, o botânico Ricardo Cardim. Inclusive, foi o pesquisador que sugeriu o nome Dryads para a série que começou a surgir no ano passado.

 

O nome tem origem na mitologia grega, em que as Dryads, ou Dríades, em português, são divindades que nascem junto a uma árvore, passando a viver nela, ou em seus arredores. A vida de ambas estaria entrelaçada de tal modo que, se a árvore morresse, o mesmo acontecia com a entidade. Cardim, ao observar que nas paisagens de Vasconcellos também habitavam figuras de nus femininos em harmonia, logo se lembrou da lenda. Quando passou a acrescentar também figuras masculinas, o fotógrafo recorreu a outra referência proveniente do mesmo imaginário, os Faunos.

 

As figuras humanas que habitam as composições de cenas idílicas de Vasconcellos foram retiradas de pinturas acadêmicas do século XIX de autoria de mestres como Jacques Louis David, William Adolphe Bouguereau e Jean-Baptiste Camille Corot. Essa é a primeira vez que o fotógrafo se apropria de imagens de outros artistas para criar seu trabalho. Reitera-se, com esse gesto, a relação entre pintura e fotografia, ali aproximadas: não é só a fotografia que se assemelha à pintura, pelo seu tratamento, mas também as figuras retiradas dos quadros se parecem com fotos.

 

Os nus foram eleitos enquanto forma atemporal de representação do corpo, pois não apresentam roupas que possam marcar uma época ou classe social. Vasconcellos busca instaurar um tempo em suspensão em que possa se sobressair a relação do indivíduo com a natureza, a procura por um certo equilíbrio harmônico entre ambos. A atmosfera romântica das imagens não deixa de nos remeter, ainda que indiretamente, as discussões sobre o impacto ecológico humano, tendo em vista a série de catástrofes com as quais nos deparamos atualmente.