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Vik Muniz inaugura no dia 2 de abril, em São Paulo, a sua primeira mostra na galeria Nara Roesler, espaço que passou a representá-lo no Brasil desde o ano passado e no qual ele inicialmente estreou, em novembro último, no papel de curador, assinando uma coletânea dedicada à Op-art. Espelhos de papel, a nova exposição, apresentará onze obras inéditas que pertencem à série Pictures of Magazine 2, na qual o artista vem trabalhando nos últimos dois anos. 

Tendo mais uma vez a fotografia como objeto final de sua produção, Vik volta a se apropriar dos fragmentos de revistas. Agora, no lugar dos pequenos discos regulares da série de 2003 (Pictures of Magazine), ele utiliza papéis rasgados, criteriosamente escolhidos a partir de imagens de publicações variadas. “Elas precisam ser rasgadas para parecerem mais acidentais, como se tivessem caído ali como confetes”, diz ele sobre o processo de colagens. 

Vik Muniz joga com os limites da representação, recompondo imagens de obras referenciais que já fazem parte do repertório visual do espectador. A série atual parte do constante interesse do artista pelas ilusões de ótica e pelas brincadeiras, que ele diz explorar igualmente a sério. Vik conta que em visitas a museus observou que os espectadores, às vezes, se moviam para frente e para trás, numa espécie de transe, enquanto exploravam a fronteira mágica entre conceito e objeto. Para ele, justo nesse ponto de transição dá-se o encontro que considera o sublime em arte: “Esses são os momentos que contêm em sua transcendência a própria natureza da representação”. 

Em seu texto de apresentação da mostra Espelhos de papel, o jornalista Christopher Turner observa que, à primeira vista, as obras parecem familiares, uma galeria de imagens famosas, roubadas de outros artistas. “Mas quando olhadas de perto elas não são o que parecem”. Cada quadro é uma colagem composta por centenas de imagens artisticamente arrumadas de acordo com a gradação de cores: “Esse vertiginoso mosaico de imagens superpostas, que dissolvem o plano do quadro numa multiplicidade de pontos focais, foi escaneado e ampliado para que o espectador possa ver os cabelos, as fibras e até a celulose do papel cortado nas bordas”, escreve Turner. 

O conjunto de fotografias digitais C-print em grandes formatos, que constitui a montagem da Galeria Nara Roesler, foi selecionado pelo próprio Vik Muniz. A mostra Espelhos de papel inclui composições a partir das pinturas de Claude Monet (Vaso de flores), Gustave Coubert (A origem do mundo), Willem de Kooning (Mulher e bicicleta) e Wilhelm Eckersberg (Modelo feminino em frente ao espelho), entre outras. Os trabalhos foram produzidos nos estúdios do Brooklyn, em Nova York, e da Gávea, Rio de Janeiro, cidades entre as quais o artista se divide atualmente. 

Apropriando-se de matérias-primas como algodão, arame, açúcar, chocolate, diamante e até lixo para compor suas séries, Vik constrói uma obra original que provoca a percepção do público, sugerindo significações para imagens conhecidas. “Não importa o que se vê, mas como se vê”, ele diz. A série Imagens de Revista 2 foi inspirada no trabalho realizado por Vik Muniz em colaboração com catadores do Jardim Gramacho, o maior lixão do Rio de Janeiro, cujos dejetos originaram retratos clássicos em grande escala - além do documentário Lixo extraordinário, indicado ao Oscar. O artista traça um paralelo entre o lixo e o saturado mundo das imagens em que vivemos: “A sensação daquilo tudo na memória é similar ao lixo. Fazer um quadro com todos aqueles detritos é muito sintomático da maneira cheia de distrações como olhamos tudo hoje em dia”. 

Obras da série Imagens de Revista 2 têm sido exibidas em mostras internacionais com repercussão junto a críticos influentes. Sobre a individual de Vik Muniz na galeria Sikkema Jenkins & Company (Nova York, 2012), Roberta Smith escreveu para o jornal The New York Times. “É a impressão geral, trêmula, de superfícies que vibram, do excesso de detalhe, e da pintura sendo ativamente ultrapassada pela colagem, que prende os olhos. Essa fusão enlouquecida de matéria, mãos e lentes está sempre em jogo nas fotografias de Mr. Muniz, mas até esse momento não havia sido alcançada de forma tão firme”.