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Nara Roesler São Paulo tem o prazer de anunciar O carnaval da substância, primeira individual da artista Manoela Medeiros na galeria. Acompanhada de texto de Luisa Duarte, a exposição apresenta trabalhos recentes da artista, além de uma intervenção site specific inédita, concebida especialmente para a ocasião. A mostra abre para visitação do público no dia 26 de novembro de 2022 e segue em exibição até 21 de janeiro de 2023.


Em O carnaval da substância, Medeiros apresenta trabalhos que derivam de  sua pesquisa sobre a análise e a compreensão da dimensão temporal da vida. Em sua produção, tão importante quanto o conceito de ruína, é aquele de entropia, grandeza da física que visa quantificar a desordem em um sistema termodinâmico. O caos, para a artista, evoca a imagem do carnaval, um evento revelador das ambivalências da vida: a alegria da fantasia e a realidade cotidiana, a liberdade da festa e a opressão social. Acima de tudo, lembra Medeiros, o carnaval é o encontro de corpos, de matérias que se chocam, dispersam, dançam, se contaminam e se transformam.


Um dos trabalhos em exposição é o inédito Entropia suspensa, escultura feita em 2015 que apresenta um tempo em suspenso, o instante antes de um acontecimento irreversível: o da fusão entre a areia e a água. Ainda nesta sala, Medeiros dispõe trabalhos tridimensionais de diferentes momentos de sua produção, oferecendo um breve panorama de sua obra. O elemento em comum entre os trabalhos é a materialidade, ou a “substância”, segundo a artista. Além de trabalhos como Eclipse (2018) e Hiatos (2015), em que a artista cria formas que, apoiadas na parede, dialogam com escavações feitas sobre ela, Medeiros apresenta também a instalação escultórica Still Life (2022).


Em 2017, a artista havia realizado um primeiro grupo de trabalhos de mesmo título para sua exposição individual na França. Baseando-se na Cité Radieuse, projetada por Le Corbusier em Marselha, Medeiros, criou estruturas modulares que evocavam edifícios, ao mesmo tempo em que se revelam meros materiais de construção organizados em diferentes arranjos. Em O carnaval da substância, a artista carioca faz uso de materiais usados na construção civil brasileira aliados à esculturas realizadas em seu ateliê para desenvolver novos exemplares da série.


A arquitetura vernacular brasileira é o tema da segunda sala da exposição, onde Medeiros irá desenvolver uma instalação com nove pinturas recentes cujo formato encena uma arquitetura em ruínas. Dispostas na parede, em diferentes posições, as telas dialogam com intervenções in situ da artista, pinturas, rasuras e escavações, feitas diretamente na parede da galeria, de modo a recriar uma arquitetura fantasma. A ideia da artista é evocar a empena de prédios em que se encontram gravados restos de uma estrutura anterior, já inexistente, demolida. Esses rastros indiciais tomam a forma de escadas, paredes e outras divisões, espaços que convidam nossa imaginação a desvendar as possíveis vidas que anteriormente ali se desenharam.


O formato das telas incorpora essa arquitetura ausente, empregando chassis com recortes de degraus, portas, e com fragmentos de azulejos. O interesse da artista repousa principalmente no caráter social da arquitetura. Em especial, Medeiros faz uso, em seu repertório, de técnicas provenientes da arquitetura popular, ressaltando o caráter manual da construção civil, tal como a mistura de gesso e pigmentos minerais em pó, muitas vezes utilizada na coloração de casas no interior do Brasil. 


Para Manoela a evocação da ruína em suas obras funciona como uma metáfora da relação entre cultura e natureza. A artista cria sobreposições de camadas e fragmentos que operam como uma arqueologia de técnicas e métodos empregados na arquitetura vernacular e kitsch, que muitas vezes foram renegados pela cultura erudita. Nesse sentido, seus trabalhos nos convidam a refletir sobre aquilo que construímos e destruímos, lembrando-nos que a forma é apenas um estado de configuração da matéria que se encontra em constante transformação.