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A fugacidade da luz é o fio condutor do 26# Roesler Hotel, projeto de exposições da Galeria Nara Roesler que convida curadores emblemáticos do Brasil e do exterior. Com recorte do historiador da arte Matthieu Poirier, a exposição Spectres (Espectros) tem abertura no dia 1º de abril, trazendo trabalhos de nomes como James Turrell e Julio Le Parc.

A mostra reúne esculturas, instalações, pinturas e fotografias abstratas, que utilizam o recurso da luz, reforçando sua fugacidade pela oscilação entre o aparecimento e o desaparecimento. Essa alternância do claro e do escuro, e a consequente projeção de sombras, é o que confere às obras, de vários períodos e correntes artísticas, uma aura espectral, fantasmagórica.

Além de Turrell e Le Parc, Dan Flavin, Ann Veronica Janssens, Larry Bell e Hiroshi Sugimoto estão entre os artistas de peso selecionados pelo curador, cuja pesquisa sobre a utilização da luz na arte e sua influência sobre os sentidos lhe rendeu participações em exposições de larga escala, como Dynamo – Un siècle de lumière et de mouvement 1913-2013 (Grand Palais, 2013), em que atuou como co-curador, sob o comando de Serge Lemoine; e a individual de Julio Le Parc, Soleil froid (Palais de Tokyo, 2013), como conselheiro científico. Ambas foram realizadas no ano passado em Paris. 

Com a mostra, Poirier interroga a própria natureza da abstração, em sua acepção como a morte da figura, pelo viés da luz, que tem o poder de criar materialidade e presença visuais, como também de dissimulá-las. Em suas palavras, "a luz não é mais considerada uma ferramenta para compreender ou 'fazer sentido'. Em vez disso, ela dissolve a realidade, expandindo os limites da visão".

O caráter espectral dos objetos não está na desaparição total, mas na tensão da "cintilação entre visível e invisível, uma flutuação constante entre a vida e a morte das aparências". Dessa forma, Poirier conceitua a arte que se produz pela percepção visual como perceptual, surgida dos sentidos, em contraponto à arte conceitual, que se origina antes da razão e do pensamento.

 

alguns destaques
Do artista japonês Hiroshi Sugimoto, a galeria apresenta as fotografias em P&B Lightning fields 167 e 168 (2009), Fox, Michigan (1980) eAvalon Theatre, Catalina Island (1993). As duas primeiras fazem parte de uma série de imagens produzidas por descargas elétricas sobre a película fotográfica, num resultado que se assemelha a um relâmpago - como o próprio nome sugere. Resultado de mais de uma hora de exposição à luz, as duas últimas retratam cinemas de arquitetura rebuscada. A versão menor de Avalon Theatre, Catalina Island (1993) faz parte do acervo do Metropolitan Museum of Art.

Em suas obras, o precursor minimalista Dan Flavin (EUA) segue a proposta de trazer para o espaço a criação de "situações", com a redefinição arquitetônica por meio de luz e cor.

Outro pioneiro norte-americano, James Turrell, tem representada na mostra sua investigação sobre os limites sensoriais no uso da luz com obras cujos volumes se produzem por nuances luminosas monocromáticas.

A relatividade das cores com relação à posição do espectador é explorada pela britânica radicada em Bruxelas Ann Veronica Janssens na obra Blue, red and yellow (2001). Em grandes dimensões, essa instalação assume cada uma das cores do título conforme é vista de diferentes ângulos. Completam a lista de artistas Bettina Samson, William Klein, Pierre Huyghe, Garry Fabian Miller, Isabelle Cornaro, Blair Thurman e os irmãos Florian & Michael Quistrebert.

 

matthieu poirier
Matthieu Poirier é Doutor em história da arte pela Université Paris-Sorbonne, onde também atuou como professor e pesquisador. Ele foi cocurador da exposição Dynamo, realizada no ano de 2013 em Paris, na Galeries nationales du Grand Palais; além disso, no mesmo ano, co-organizou a retrospectiva
dedicada a Julio Le Parc no Palais de Tokyo.